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quinta-feira, 30 de abril de 2015

Animagem (#09/2015)

"Dji: Death Sails" (Dji: A Morte Navegante*), conta a história de um pirata naufragado a braços com a morte...




Hoje temos uma animação extra, Dji regressa em mais uma aventura. "Dji: Death Fails" (Dji: Morte Falhada*).


 


(*Tradução livre)

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Livros que nos devoram por Luísa Félix (#04/2015)

Stoner, de John Williams


«Um aluno que ocasionalmente depare com o nome poderá perguntar-se quem era William Stoner, mas poucas vezes tentará saciar a curiosidade, indo além da pergunta casual. Os colegas de Stoner, que não lhe tinham uma estima por aí além quando era vivo, raramente falam dele agora; para os mais velhos, o nome é um lembrete do fim que os espera a todos e, para os mais jovens, é um mero som que não evoca qualquer noção do passado nem qualquer sentimento de identificação quer em termos pessoais, quer em termos de carreira.»


John Edward Williams, Stoner, Publicações D. Quixote, p. 7


Não conhecia Stoner, até ao dia – há pouco mais de um mês – em que, passando por um blogue que costumo visitar, deparei com a imagem da capa, uma passagem do livro e um breve comentário da anfitriã. A minha curiosidade levou-me, de imediato, à página de uma editora que disponibiliza de quinze a vinte páginas de algumas obras, para leitura prévia. Li essas páginas e, poucos dias depois, tinha o livro comigo e a companhia algo soturna, mas longe de ser sinistra, de William Stoner, o protagonista.

Apesar de sido publicado, nos Estados Unidos, em 1965, Stoner acabou por cair no esquecimento e só recentemente ganhou popularidade, depois de ter sido traduzido para o francês por Anna Gavalda e publicado, inicialmente, em França e, de seguida, noutros países da Europa. Depressa ganhou a simpatia dos leitores e os elogios de escritores europeus de renome, como Ian McEwan ou Julian Barnes.

Stoner conta a história de William Stoner, nascido no seio de uma família humilde de agricultores, que não ambicionavam para o filho mais do que os estudos obrigatórios e um futuro na quinta. Contudo, o destino de Stoner ganha outro rumo, quando, terminada a escola obrigatória, um conselheiro rural sugere ao pai que o filho deveria candidatar-se à Escola Agrária da Universidade de Columbia. William acaba por ingressar na escola, instalando-se na quinta de uns familiares, que o acolhem com a condição de ele trabalhar para eles. Apesar de o trabalho árduo lhe deixar pouco tempo livre, Stoner conclui o primeiro ano do curso. O seu fascínio crescente pela cadeira de literatura leva-o, no início do segundo ano, a substituir a Agricultura por Literatura, sem dar a conhecer aos pais a sua decisão. Terminado o curso, Archer Sloane, o professor de Literatura, propõe-lhe um lugar de assistente na universidade. 

Embora seja um professor dedicado, um desentendimento com um superior impedi-lo-á, durante décadas, de progredir na carreira e de sair da obscuridade. Acerca de Stoner vão surgindo, ao longo desses anos, mitos que dão dele uma certa imagem de excentricidade. 

A vida pessoal de William não é menos cinzenta. Casa, ainda muito jovem, com uma mulher que não o ama e que, ao longo de muitos anos de convivência, o hostiliza e afasta da única filha. Quando o protagonista se apaixona e vive durante algum tempo um romance com uma aluna, temos esperança de que a sua vida possa mudar e que ele consiga, finalmente, pôr fim a um casamento que não o faz feliz. Mas tal não acontece, acabando por deixar partir a única mulher que ama verdadeiramente.

Stoner, que nasceu no fim do século XIX, vive os contratempos de duas guerras mundiais, não chegando a superar a morte de um amigo que perde na primeira.

Ficamos, desde o início da narrativa, com a imagem de uma personagem apagada, incapaz de impor a sua vontade, que leva uma vida profundamente infeliz. Há, inclusive, momentos em que nos dá vontade de abanar Stoner, de tomar decisões por ele. Contudo, se quisermos ser justos, vislumbramos nele resiliência, princípios inabaláveis, que o impedem de ir pelos caminhos que os outros querem, a todo o custo, traçar para ele, qualidades que fazem dele um ser único. O autor afirma, numa entrevista, que não vê Stoner como ser infeliz, antes como alguém realizado, porque fez sempre aquilo que quis e de que gostava.

A escrita de John Williams é limpa, serena, sem grandes artifícios de retórica, mas literariamente eficaz, quer pela clareza do discurso, quer pela técnica narrativa, que leva o leitor a querer sempre ler mais uma página.


A autora, Luísa Félix, pode ser seguida no seu blogue, Letras são papéis.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Poesia de primeira, à Segunda-Feira (#17/2015)

25 de Abril


Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo


Sophia de Mello Breyner Andresen, O Nome das Coisas (1977)

domingo, 26 de abril de 2015

Undenied Pleasures por Nuno Baptista (#17/2015)



Depois de dez anos sem Bowie lançar qualquer trabalho novo e desde 2006 sem dar concertos e eis "The Next Day". A crítica aplaudiu o dia seguinte dizendo que era um álbum belo, arrojado, provocativo e inteligente, o "The Independent" afirmou mesmo ser o maior regresso de sempre na história do "Rock". Convenhamos, Bowie sempre foi um visionário e inovador nos seus trabalhos, tornando-se nele próprio a evolução. Fiquem com "The Stars (Are Out Tonight)" e comprovem o génio de David Bowie.


sábado, 25 de abril de 2015

O Aniversário da Marlene por Rogério Paulo E. Martins (#10/2015)

O aniversário da Marlene é um conto, da autoria de Rogério Paulo E. Martins, do qual será partilhado um parágrafo semanalmente (independentemente do seu comprimento). Sempre aos Sábados, pelas 21:30, não percas, um exclusivo da Pomar de Letras.


Lê os primeiros parágrafos.
VIII aqui
IX aqui


Esqueci-me de referir que eu não queria ir ao hospital, para mim era uma mera entorse que em nada urgia um hospital onde, certamente, me curariam e eu poderia ir à escola no dia seguinte – o que me lembra que não poderia ser Sexta-Feira e era, isso sim, Quinta-Feira, dia vinte de Fevereiro. A dor era enorme, mas se me impedisse de ir à escola, era suportável – … – e tratá-la estava portanto fora de assunto. Não fui à escola de qualquer modo. A gravidade da fractura levava-me a necessitar de ficar em casa imóvel para deixar secar o gesso e tinha de manter a perna levantada, pelo que só Terça-feira regressaria à escola. Dito isto, concluo agora que me enganei no ano. Não girava o ano de mil novecentos e noventa e sete, mas sim o seu predecessor. Mil novecentos e noventa e seis. Valeu-me imensas radiografias esta fractura – não direi estaladela, pois não me parece correcto – e é claro o fim-de-semana prolongado. Afinal foi bom ir ao hospital. O que me lembra que, anos mais tarde, andei com o polegar da mão direita também estalado, mas só fui ao hospital quando já a sanação da fractura ia em longo curso, pelo que de nada me valeram lá e saí “apenas” com uma receita para um spray que ia disfarçando as dores, que de resto não eram muitas, ou não teria aguentado três semanas até ir ao hospital.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

SCREEN SHOT (#17/2015)

(Esta semana Screen Shot é escrito pelo editor que rejeita o desacordo ortográfico.)


Clássico: Le voyage dans la lune [A Viagem à Lua] (1902)
Realização: Georges Méliès


A Viagem à Lua é um dos primeiros filmes de Ficção Científica e uma sequência animada no final atribui-lhe igualmente o título de uma das primeiras metragens animadas. Inspirado nos romances Da Terra à Lua, de Júlio Verne, e Os Primeiros Homens na Lua, de H. G. Wells. Como o título indica, conta a história de um grupo de astrónomos que viajam à lua numa cápsula expelida por um canhão. Originalmente gravado a preto e branco, Georges Méliès criou uma segunda versão, colorida manualmente, que acabou perdida e apenas foi recuperada em 2002 num celeiro em França. Esta versão é a mais completa existente do filme e algumas sequências, apesar de danificadas pelos anos e os elementos, foram recuperadas e coloridas a partir da versão a preto e branco. O realizador, que esperava lucrar com a exibição do filme nos E.U.A. acabou por falir alguns anos depois, quando viu a sua intenção gorada, pois Thomas Edison que obtivera algumas cópias do filme adiantou-se às intenções de Georges Méliès e ganhou por sua vez a fortuna que este almejava.

Sendo o filme mais antigo constando no livro "1001 filmes para ver antes de morrer", de Steven Jay Schneider, o filme encontra-se já em domínio público. Deixamos aqui os endereços para a versão a preto e branco. disponível no sítio archive.org e a versão colorida, com uma nova banda sonora composta pelos franceses Air.


Preto e branco:


Cor:

terça-feira, 21 de abril de 2015

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Poesia de primeira, à Segunda-Feira (#16/2015)

Quem dá tudo o que tem,
A mais, não é obrigado.
Nunca se pede a ninguém
Se não for de seu agrado.
Mas se um dia por Alguém
For por inteiro chamado,
Às avessas do convém,
Virá dar tudo que tem,
A mais, não é obrigado.

Mas quem só espartilhado
Porventura não convém
A quem tudo é revelado,
Não só inteiro então vem,
Como espera que o outro lado
Seja realmente Alguém
Inteiramente dotado
A dar o tudo que tem,
A mais, não é obrigado.


Hugo Carabineiro

domingo, 19 de abril de 2015

Undenied Pleasures por Nuno Baptista (#16/2015)



Tricky voltou ao seu estilo com este "False Idols". Sobre os trabalhos anteriores, entenda-se "Mixed Race" e "Knowle West Boy", disse que a sua visão estava toldada e que, actualmente, apesar de aprovar as suas composições nesses álbuns, afirma que não é o melhor que consegue fazer, assim, está de volta à fórmula que lhe deu o sucesso em 1995, faz o que quer sem olhar a opiniões, ou seja, a pinta do extraordinário "Maxinquaye" está de volta, o bom "Trip-hop" dos primórdios está de volta, que seja muito Bem-Vindo. Neste "False Idols" contou com as colaborações de Peter Silberman (The Antlers), Fifi Rong, Nneka e Francesca Belmonte.
Fiquem com "Nothing´s Changed" com a voz de Francesca Belmonte, que demonstra os bons tempos de Tricky. Tem ainda excertos da lindíssima "Makes Me Wanna Die".


sábado, 18 de abril de 2015

O Aniversário da Marlene por Rogério Paulo E. Martins (#09/2015)

O aniversário da Marlene é um conto, da autoria de Rogério Paulo E. Martins, do qual será partilhado um parágrafo semanalmente (independentemente do seu comprimento). Sempre aos Sábados, pelas 21:30, não percas, um exclusivo da Pomar de Letras.


Lê os primeiros parágrafos.


Só quando a minha mãe chegou, sabendo de antemão que me magoara, foi procurarme e me encontrou no quarto, ainda gemendo a, em nada adormecida, dor que, me inchava o pé em triplos tamanhos e me abstraia de quaisquer outros pensamentos e razões que não a sua. Claro está que acabei nas urgências do hospital de Macedo de Cavaleiros, esperando para ser atendido. Não vou entrar em pormenores, apenas digo que cheguei e logo fui encaminhado para a sala de raio-X. Após cerca de duas horas esperando o ortopedista regressar do seu jantar, fui novamente chamado pelo enfermeiro Júlio, para ser reencaminhado para o raio-X. A radiografia anterior parecia estar defeituosa. Gracejei acerca dos meus ossos de mutante – ai a meninice… – algo que não provocou a reacção esperada na minha mãe e lá fui, ser tratado.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

SCREEN SHOT por A.A.M. (#16/2015)

(Screen Shot é escrito segundo a nova variação ortográfica.)


Filme: Interstellar
Realização: Christopher Nolan


Para o bem e para o mal, poucos serão os realizadores que conseguem obter total confiança financeira para produzirem os seus filmes sem quaisquer limitações, assim, tal e qual como os tinham projetado. Christopher Nolan é um deles. Realizador e co-autor de um argumento que nos traz uma profundidade emotiva que só ele nos consegue fazer sentir. Juntamente com o melhor que se faz em tecnologia de efeitos especiais transmite-nos um cenário extraterrestre cientificamente fundamentado com planos incríveis filmados na Islândia e Canadá entre outros locais. A complexidade do som imerge-nos completamente no desenrolar da ação sentindo cada pormenor, cada movimento, cada emoção. Nas interpretações, Matthew McConaughey e Anne Hathaway destacam-se com performances marcáveis.
Interstellar representa um futuro não muito distante, difícil para o Homem, em que a capacidade de sustentabilidade se vai esgotando e as condições de habitabilidade se deterioraram. A exploração espacial, que tinha sido interrompida para dirigir os fundos para agricultura que é sustento de toda a Humanidade, é agora vista como a única solução para garantir a continuidade da espécie, independentemente dos custos financeiros e humanos que essa opção trará. Não hoje, nem amanhã, mas um dia este dilema poderá ser nosso.


quinta-feira, 16 de abril de 2015

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Poesia de primeira, à Segunda-Feira (#15/2015)

Entre o ser e o não ser, um ser minúsculo


Esta sensação de clausura na infinidade do infinito
E esta nostalgia bruta do que nem sequer imagino

E a sede intacta oculta nos silêncios que não grito
de ir além das fronteiras do universo e do destino.

E este cansaço que até do repouso se magoa e cansa
E este desejo de nada ser para esquecer quanto morri

Maldito este deserto de tudo o que na solidão me alcança
e me deixa no limbo da morte e de quanto de mim esqueci.

Como a noite que amanhece nos braços da madrugada
e a tarde que desce a noite na agonia do crepúsculo

Caminho entre o desejo de tudo e o desejo de nada
E sou dos seus abismos um ser invisível

E minúsculo.


Valter Guerreiro

domingo, 12 de abril de 2015

Undenied Pleasures por Nuno Baptista (#15/2015)



Tive o prazer de ver Low ao vivo, em 2012, em Santa Maria da Feira, que banda meus amigos. Prestes a fazer 20 anos de existência, lançaram o álbum seguinte ao aclamado "C´mon" de 2011. "The Invisible Way" é o nome, Alan e Mimi não desapontaram, descreveram o álbum como intimista e os temas variam entre vários tipos de guerra, arqueologia e amor. Podemos contar com a voz de Mimi Parker em cinco das onze músicas que compõem o álbum.
Fiquem com o primeiro single "Just Make It Stop".


sábado, 11 de abril de 2015

O Aniversário da Marlene por Rogério Paulo E. Martins (#08/2015)

O aniversário da Marlene é um conto, da autoria de Rogério Paulo E. Martins, do qual será partilhado um parágrafo semanalmente (independentemente do seu comprimento). Sempre aos Sábados, pelas 21:30, não percas, um exclusivo da Pomar de Letras.


Lê os primeiros parágrafos.


À hora de voltar a casa, já a minha injúria tinha atingido outro grau de dor. Como se costuma dizer, o pé tinha arrefecido. E a facilidade com que chegara ao Lua Doce, esteve longe do calvário que foi chegar a casa. Agora ajudado – apoiado – ora pela Dânia, a irmã da Marlene, ora pela Catarina, filha dos donos do supermercado, ora pela Nádia, a minha irmã. Por vezes por duas delas e pontualmente saltitando. Qualquer estremecimento no pé, ou na perna, me provocava uma dor calcinante e aguda que me derreava e fugia as forças. Foi longa, morosa e arrebatadora, quer a viagem, quer a dor, que me levaram a casa. Quando cheguei, todas as forças foram poucas para conseguir dirigir-me ao quarto em braços pelas minhas estafadas “enfermeiras”. A Fifi, a minha cadela, rejubilante de nos ver correu na nossa direcção saltitando, carente de festas e mimos. Foi nesta euforia que, já à porta do quarto, a Fifi acabou caindo sobre o meu pé – esquerdo. A dor foi tal que me soltou um urro tremendo de dor e um palavrão feio para a cadela. Deitaram-me e ajudaram-me a descalçar, novamente, uma dor agonizante me abateu e deixaram-me no quarto, gemendo de dor, procurando adormecê-la e proibindo-as de contar o que fosse aos meus pais.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

SCREEN SHOT por A.A.M. (#15/2015)

(Screen Shot é escrito segundo a nova variação ortográfica.)


Filme: Big Hero 6
Realização: Don Hall, Chris Williams


Quando vemos o selo da Walt Disney Pictures num filme sabe-se de antemão que estamos a ser presenteados com minutos de pura qualidade em animação. Minutos esses que correspondem a infindáveis horas de desenvolvimento de técnicas, desenho, composição de imagem e sua criação em movimento. Ainda assim, e após o seu quinquagésimo quarto filme de longa duração, ainda nos conseguem surpreender. Big Hero 6 é de facto uma bela estória que mais uma vez nos demonstra que o cinema de animação vai muito além da sua premissa de entretenimento, estando subjacentes valores que muitas vezes não se conseguem veicular noutro género de filmes de forma tão acessível. Hiro Hamada, é um jovem desorientado que encontra na robótica um estimulo para se retirar daquilo que é a sua ocupação, participar em lutas ilegais de robôs. É-lhe mostrado que o seu talento pode ser usado numa vertente mais criativa no desenvolvimento de novas tecnologias, cooperando com outros para que todas as pessoas possam beneficiar. Mas aí algo acontece que muda tudo. No entanto, a sua interação com os robôs vai ajuda-lo a superar todos os obstáculos, acabando ele próprio por se descobrir através da amizade incondicional do seu novo amigo. A representação da interajuda, num futuro não muito distante.


terça-feira, 7 de abril de 2015

Ditados Impopulares (#07/2015)



"Um provérbio que constata a difícil compatibilidade entre as políticas de austeridade e o crescimento económico."

Segue os Ditados Impopulares no facebook. ;)

segunda-feira, 6 de abril de 2015

SCREEN SHOT por A.A.M. (#14/2015)

(Screen Shot é escrito segundo a nova variação ortográfica.)
(Devido a razões técnicas, SCREEN SHOT não ficou disponível publicamente na data prevista, por isso pedimos desculpa.)

Série: Game of Thrones (2011)
Criadores: David Benioff, D.B. Weiss


Não necessita de apresentações. Game of Thrones é sem dúvida das melhores séries televisivas já feitas. Traz o melhor de todos os géneros: drama, ação, aventura, fantasia … tudo isto reunido no que que será um dos melhores argumentos adaptados, não fosse baseada nos livros de George R. R. Martin. E o que torna esta série numa peça incrível, não são só as suas qualidades técnicas de realização, guarda-roupa, som e imagem amplamente aclamados, é a sua repercussão no público. Se inicialmente era de culto e quase ninguém conhecia até ao final da primeira época, o passa palavra funcionou da melhor forma. Isso e o tempo que distancia entre o episódio final e a estreia seguinte dá tempo para alcançar o espectador de uma forma massivamente global. As pessoas veem e tomam partido pela família com que se identificam ou gostam, falam e criticam empenhando o seu mote. Comparam o livro com o argumento do filme e os mais fiéis súbditos são capazes de saber melhor a história e origem de Game of Thrones com os seus reis e dinastias do que a história do próprio país. Com estreia marcada na sua quinta temporada para dia 12 de Abril, dá tempo suficiente para nestes dias fazer uma maratona revendo os episódios anteriores, para cimentar ideias concebidas e perceber que personagem é aquele primo afastado e o que anda ali a fazer. Aguardamos ansiosamente. “Winter is Comming.”


Poesia de primeira, à Segunda-Feira (#14/2015)

Carta a meus filhos sobre os fuzilamentos de Goya


Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.
É possível, porque tudo é possível, que ele seja
aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo,
onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém
de nada haver que não seja simples e natural.
Um mundo em que tudo seja permitido,
conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,
o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.
E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto
o que vos interesse para viver. Tudo é possível,
ainda quando lutemos, como devemos lutar,
por quanto nos pareça a liberdade e a justiça,
ou mais que qualquer delas uma fiel
dedicação à honra de estar vivo.
Um dia sabereis que mais que a humanidade
não tem conta o número dos que pensaram assim,
amaram o seu semelhante no que ele tinha de único,
de insólito, de livre, de diferente,
e foram sacrificados, torturados, espancados,
e entregues hipocritamente à secular justiça,
para que os liquidasse «com suma piedade e sem efusão de sangue.»
Por serem fiéis a um deus, a um pensamento,
a uma pátria, uma esperança, ou muito apenas
à fome irrespondível que lhes roía as entranhas,
foram estripados, esfolados, queimados, gaseados,
e os seus corpos amontoados tão anonimamente quanto haviam vivido,
ou suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória.
Às vezes, por serem de uma raça, outras
por serem de uma classe, expiaram todos
os erros que não tinham cometido ou não tinham consciência
de haver cometido. Mas também aconteceu
e acontece que não foram mortos.
Houve sempre infinitas maneiras de prevalecer,
aniquilando mansamente, delicadamente,
por ínvios caminhos quais se diz que são ínvios os de Deus.
Estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror,
foi uma coisa, entre mil, acontecida em Espanha
há mais de um século e que por violenta e injusta
ofendeu o coração de um pintor chamado Goya,
que tinha um coração muito grande, cheio de fúria
e de amor. Mas isto nada é, meus filhos.
Apenas um episódio, um episódio breve,
nesta cadela de que sois um elo (ou não sereis)
de ferro e de suor e sangue e algum sémen
a caminho do mundo que vos sonho.
Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém
vale mais que uma vida ou a alegria de tê-la.
É isto o que mais importa - essa alegria.
Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto
não é senão essa alegria que vem
de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez alguém
está menos vivo ou sofre ou morre
para que um só de vós resista um pouco mais
à morte que é de todos e virá. Que tudo isto sabereis serenamente,
sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição,
e sobretudo sem desapego ou indiferença,
ardentemente espero. Tanto sangue, tanta dor, tanta angústia, um dia
- mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga -
não hão-de ser em vão. Confesso que
multas vezes, pensando no horror de tantos séculos
de opressão e crueldade, hesito por momentos
e uma amargura me submerge inconsolável.
Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam,
quem ressuscita esses milhões, quem restitui
não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?
Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes
aquele instante que não viveram, aquele objecto
que não fruíram, aquele gesto de amor, que fariam «amanhã».
E, por isso, o mesmo mundo que criemos
nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa
que não é nossa, que nos é cedida
para a guardarmos respeitosamente
em memória do sangue que nos corre nas veias,
da nossa carne que foi outra, do amor que
outros não amaram porque lho roubaram.

Lisboa, 25 de Junho de 1959


Jorge de Sena


domingo, 5 de abril de 2015

Undenied Pleasures por Nuno Baptista (#14/2015)



O nome é Beatrice Eli. Oriunda da Suécia apresentou-nos, em 2013, o seu EP de estreia explorando o estilo "Synth". Eli descreveu o EP como negro e afectuoso ao mesmo tempo, pretendendo deixar a sua marca e as letras referem isso mesmo nas relações humanas. Embora os temas possam ser pesados, não o sentimos no trabalho desenvolvido que conta com uma produção plena de "Twists and turns". Fiquem com o single "It´s Over", que traz as características vocais fortes de Eli sobre os riffs de guitarra e batidas relaxadas.


sábado, 4 de abril de 2015

O Aniversário da Marlene por Rogério Paulo E. Martins (#07/2015)

O aniversário da Marlene é um conto, da autoria de Rogério Paulo E. Martins, do qual será partilhado um parágrafo semanalmente (independentemente do seu comprimento). Sempre aos Sábados, pelas 21:30, não percas, um exclusivo da Pomar de Letras.


Lê os primeiros parágrafos.
I aqui.
II aqui.
III aqui.
IV aqui.
V aqui
VI aqui



A minha irmã ajudou-me a levantar e coxeei até casa. Melhor será dizer que saltitei até casa, onde esperei até à hora marcada para ir à festa de aniversário. Não seria uma mera dor no pé, alguma entorse sem gravidade, que haveria de estragar-me o dia. E assim, à hora marcada lá fui, saltitando ao pé-coxinho até ao Lua Doce. Ajudado, pontualmente, ora pela minha irmã, ora por alguma das amigas que nos acompanhavam. Não sei precisar distâncias, mas era bastante longe, principalmente, para quem tinha um pé partido – tornozelo estalado. Mas lá chegámos e divertimo-nos na festa. Como dita a regra que as crianças andem sempre aos tombos e todas arranhadas, nem a minha mãe, nem alguma das outras presentes, estranhou que estivesse sempre sentado, sorrindo, e apenas acusado pelos outros infantes de me haver magoado no pé, mas se ali houvera chegado, nada sério haveria de ser. E assim, retornaram aos empregos, cantados os parabéns e nós, mais tarde, a casa rumámos. E pois que isso sim foi complicado.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Animagem (#07/2015)

Todos sabemos que as pirâmides foram construídas por extraterrestres e, em 1920, no Cairo, um arqueólogo descobriu o seu segredo.