Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX – 25 de Janeiro
Era fim-de-semana, uma sexta-feira
dolente atravessou-lhe o corpo. Agora não precisava de ter pressa, o tempo e as
pressões jogavam a seu favor. Quando regressou do emprego arrastou-se para o
sofá e ficou a meditar. De vez em quando ia ao bolso das calças tactear o metal
da chave do templo, que copiara recentemente; e imaginava o devir naquela noite.
Rogério resolveu sair depois do jantar, voltaria brevemente conforme prometera,
era só ir a uma aldeia vizinha tratar de pagar uma dívida da casa. À mulher
pouco lhe importava.
Com a noite por gabardine envolveu-se nos
nevoeiros de Janeiro e foi até ao santuário. Era necessário garantir, apesar da
facilidade do assalto, o silêncio e a discrição. Andou por todo o ermo, e não
encontrou ninguém, muito menos o automóvel que pôs em fuga.
Foi à algibeira, quando se aproximava
da porta lateral do templo, e retirou a chave. Foi breve; e estava
feliz por não precisar de mais apetrechos, como machadas, que depois
desapareciam. Bastavam-lhe a chave, as luvas e uma lanterna.
Apenas cinco passos, pensava metonímicamente, apenas cinco passos; e no
regresso mudaria a sua vida. Entrou e foi directo a um altar lateral. Pensou em
todas as jogadas do passado, para obter a santinha da idade média, e imaginou o
seu ventre grávido de jóias, nas suas mãos. Pensou em quando sentado junto ao televisor,
revolvia os planos vistos e revistos antes da primeira tentativa. Enfim,
agarrou o que lhe parecera inacessível. A santa pertencia-lhe – ele, o conquistador de novos tesouros
mouriscos. Num relâmpago, desapareceu com a
figura debaixo do casaco. Seguiu de imediato para a aldeia vizinha, cumprindo o
álibi. Pelo caminho transfigurava-se com a facilidade com que tudo acontecera.
Um sorriso criminal afundando-se-lhe na cara. No próximo dia chegaria
Edmundo, e juntos abririam a santa. Mas Rogério não deixou de abanar a figura, e confirmou-se que havia algo que
sacudia, e sentiu-se trespassado pela satisfação do dever cumprido.
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