159cm é uma rubrica nova na Pomar de Letras, onde esporadicamente o autor nos dará a sua opinião e visão do mundo. Desde temas sérios a divagações surreais e disparatadas, tudo cabe em 159cm.
"Like my selfie"
"Like my selfie"
Esbarrei,
outro dia, numa publicação no facebook em que a fotografia de um miúdo com o
seu cachorrinho era acompanhada duma descrição na qual aquele se desculpava do
seu comportamento e fazia juras de grande amor pelo canídeo. Não sabendo do que
se tratava e com a curiosidade atiçada,
por os mais de mil comentários, abri a publicação e dei uma vista de olhos pela
miríade de reacções para perceber o que se houvera passado. Rapidamente, por
entre os insultos ao miúdo percebi que, em nome dos quinze segundos de
estrelato na Internet, este gravara um vídeo em que maltratava o animal. Não vi
o vídeo, mas pude perceber por entre aquelas reacções e outras publicações com
que me deparei, que o indivíduo chegou a ameaçar largar o cão janela abaixo,
caso chegasse a determinado número de “gosto”.
No dia
anterior, ficara perplexo com a notícia de uma jovem nos E.U.A. acusada de
cumplicidade na violação de uma amiga, porque, ao invés de ajudar a amiga que
estava a ser violentada, a jovem achou aquela uma oportunidade ideal para pegar
no seu “smartphone” e partilhar a violação em directo no Twitter. Segundo a
própria, a intenção era que alguém chamasse a polícia, porque é claro ela
estava muito ocupada a partilhar o momento na sua página pessoal e não poderia,
ser ela a ligar para as autoridades, ou ajudar a amiga (segundo a notícia, a
rapariga ria-se, enquanto filmava e a outra era violada, e a sua única acção
foi puxar uma das pernas da vítima, ao invés de atacar o violador). A integridade
física e mental da amiga era inferior face ao possível número de seguidores e “likes”.
Agora,
deparo-me com o relato de uma estátua, num edifício património nacional, escaquilhada
por causa de uma fotografia. Até poderia ter sido um acidente e muito
provavelmente até daríamos por nós a relatar algumas maluquices da nossa
juventude, sentindo uma certa empatia para com o jovem. O problema é que todos
estes casos têm um ridículo denominador comum, que passa pela “fama” nas redes
sociais. Uma fotografia, já não vale pelo seu interesse artístico, ou pelo
momento captado, um vídeo não regista um momento que queiramos guardar para
recordar futuramente; hoje em dia as cousas valem “likes”, seguidores e
visualizações; valores efémeros que como o insecto do mesmo nome, vivem apenas
para a posteridade. A grande diferença é que as efémeras vivem um dia intenso
em que procuram procriar e perdurar a espécie, vivem intensamente, para poderem
existir, enquanto estes falsos valores sociais nos encaminham para que não
existamos mais, mas pelo menos alguém fez “gosto”.
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